I- Começa pelo Epílogo
Júpiter levantou-se, como se ainda dormisse, tocou com as pontas dos dedos os lençóis azuis de algodão da cama... Esfregou os olhos, tossiu e fim.
Virou-se para esquerda com os olhos totalmente abertos,
passou o polegar pela tela do celular,
piscou três vezes, visitou 6 o perfil da namorada no Instagram,
4 corações de um tal de Afonso: "gordo do caralho", pensou.
Desligou a tela, sentou-se na cama, tinha os olhos fechados, respiração serena. fim.
Café da manha na cama... Migalhas de pão e leite derramado,
banho curto, shampoo e sabão baratos. Fim.
Vestiu camiseta, calça, sapatos, máscara. Ônibus, carteira, dinheiro e troco.
Ponto número 27, perto da padaria, longe do prédio. Fim.
Engoliu café, ligou o computador, falou 3 ou 4 palavras com o colega ao lado, coçou os olhos.
Olhos estáticos no relógio. Contou 8 horas e um almoço. Fim.
Júpiter não era gordo nem magro, alto nem baixo. Mediano de descendência desconhecida e provavelmente esquecível.
Olhos fundos, quase afundando para dentro do rosto angular. Fim.
Júpiter cheirava a coisa nenhuma, andava reto para direção de nada.
Parava quieto como a pedra e o verso.
Feito epílogo de uma peça de teatro inacabada,
escrita em folhas amareladas de um caderno esquecido na gaveta.
Começo.
Júpiter não começa aqui.
II- Prólogo
Ela tinha os dedos magros, muito finos, 1,65 de altura,
gramática de escola pública e matemática pior.
Acordou decidida a ser escritora.
Escreveu, letra miúda e de leitura difícil.
Júpiter começa aqui.
Um ticos surreal.
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