sábado, 25 de abril de 2020

abril de 2020

teve aquela terapeuta... 

eu disse: "eu escrevia uns poemas."
ela: "você vai precisar me mostrar."

eu: "e o que sobraria para me esconder? "

sempre amei o canto,
o esquecido,
o longe...

o fracassado
e o tedioso. 

sempre detestei o palco,
os que constroem os palcos
e os que sobem nele 
- por prazer.

quem escreve 
e quem lê poesia em voz alta.

isso me atropela o silencio,
não me deixa esfregar o nada de mim pela cara.

quando eu apareço 
eu sumo,

uma - coisa-  muito parecida comigo
aparece 
me engole
e depois, também some.

o que sobra é o resto do mundo.

a fumaça do cigarro dele,
o boleto não pago,
o quarto e os livros,
o atraso do paciente das seis ou das sete... (quem liga)

a impossibilidade de escrever. 

tudo que também é vida,
mas que tem me escapado do verso.

eu queria o ridículo,

olhar no mistério dos bigodes da gata 
enquanto ela dorme.

nem esconder ou encontrar nada.

só olhar os bigodes da gata enquanto ela dorme. 

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