teve aquela terapeuta...
eu disse: "eu escrevia uns poemas."
ela: "você vai precisar me mostrar."
eu: "e o que sobraria para me esconder? "
sempre amei o canto,
o esquecido,
o longe...
o fracassado
e o tedioso.
sempre detestei o palco,
os que constroem os palcos
e os que sobem nele
- por prazer.
quem escreve
e quem lê poesia em voz alta.
isso me atropela o silencio,
não me deixa esfregar o nada de mim pela cara.
quando eu apareço
eu sumo,
uma - coisa- muito parecida comigo
aparece
me engole
e depois, também some.
o que sobra é o resto do mundo.
a fumaça do cigarro dele,
o boleto não pago,
o quarto e os livros,
o atraso do paciente das seis ou das sete... (quem liga)
a impossibilidade de escrever.
tudo que também é vida,
mas que tem me escapado do verso.
eu queria o ridículo,
olhar no mistério dos bigodes da gata
enquanto ela dorme.
nem esconder ou encontrar nada.
só olhar os bigodes da gata enquanto ela dorme.
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