domingo, 3 de maio de 2020

enlatado

se nada me acontece
o que me resta para escrever,

se não, 
o espesso 
dessa coisa nenhuma?

me quebra em duas,
três ou até quatro 
partes
de nada -  que também sou eu.

despedaça o relógio,
me transborda os silêncios.

me devora a folha em branco,
me cospe fora
incerto e cafona 
o verso...  

se não pode escrever sobre nada,
não pode escrever.

e, é só isso.

cheira,
toca,
mastiga,
devora.

cospe fora:

silencio. 

os ponteiros seguem o curso,
lá fora,
as caixas registradoras
trabalham,
muito melhor que você.

mas eles são poemas enlatados,

você não pode ser um poema enlatado,

por pior poeta/
pessoa,
que você seja.

enlatado não!

shiu! fez barulho demais agora...

acabou o poema. 

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