sou muitas coisas,
ao passo,
que não sou, muitas outras coisas.
o que há de muito raso
ou profundo
em mim,
os versos tão íntimos, e tão banais.
me relevam e escondem,
os dedos e a fronte.
de mim, pouco ou nada sei.
e tudo sou,
tudo sei
ou julgo adivinhar, quando apenas posso sentir-me,
rasamente dentro do que se sente em mim.
sou eu, na doçura ou amargura
da boca,
versos e beijos,
sorvendo os dias, vou caminhando,
dentro e fora das minhas pegadas,
o que nos mata não é a nicotina,
não é bala, não é o frio, ou a fome,
é o tempo.
e somente o tempo.
o que nos oprime não é o emprego
gasto
feito sola e sapato,
feito sola e sapato,
ditadura, Estado,
rigidez
e Rei,
é o tempo,
e somente o tempo.
o que nos fere,
não é angustia do amor passado,
não é a inconstância do amante perdido,
o que nos fere,
é o tempo.
e somente o tempo.
queria rasgar-me os cadernos,
queimar-me as horas,
ao tempo,
que nada disso,
tem mais sua importância,
linhas e linhas,
dias e dias...
o que há de mim,
em tudo que se reflete dentro ou fora do espelho,
nada que me reflita a frente,
e as espinhas que tive,
ou as rugas que ainda terei,
terei?
de certo que sim...
mas nada é tão certo e errado,
quanto um tempo,
que me passa,
passa?
de certo que passo,
ao passo,
que não vou.
fico,
e finco,
meus pés no que há de vir,
e em mim,
no que fui,
e no que nunca serei,
serei?
coisa alguma,
ou todas as coisas...
não me sinto eu,
me sinto um rio,
que passa,
e passo,
na ideia do que fiz de mim,
existo no que sou,
mas também existo no que deixei de ser...
rio que passa,
passo,
e me afundo
findo,
e começo,
nas águas mortas,
ainda por nascer,
existo e fim,
não, existo em começo, meio
e em mim.
e em mim.
sou muitas coisas,
ao passo,
que não sou, muitas outras coisas.
me enxergo em tudo que não me reflete,
existo e inexisto em muitas de minhas fotografias
tiradas no presente,
que há muito, que me é passado.
ah,
o que me é passado,
presente,
vida
futuro
e morte?
é tudo farinha do mesmo saco,
de matéria do mesmo infinito
morto ou vivo em nós...
o que reside no meu peito?
o que reside no meu pranto?
o que reside no meu espirito?
o que reside...
o que me resiste,
sou eu,
apenas eu.
seja lá o que for isso,
que conheço como eu...
sou eu,
sem ponto ou fim.
eu,
errada ou certa assim,
viva ou morta,
presente ou ausente em mim,
eu...
misturada a solidez do asfalto,
a fluidez da rima,
a poesia,
e a vida.
não sou muita coisa,
ao passo,
que sou, muitas outras coisas... em mim.
Tempo assassino da inércia.
ResponderExcluirOu não:
"Rascunhos 1 minuto atrás..."
Bonito. Principalmente do meio pro fim...
ResponderExcluir*--*
Assim nasceu o que em ti cresceu, como poemas em ti poeta a que poetiza a descoberta da vida questionada por quem deixa a vida à Deus dará ...
ResponderExcluirMirtes, esse poema é o teu melhor primeiro de todos os outros, senti e amei isso dito por tua boca.
Saudações!
esqueci de dizer, não usa mais banais .. nada de ti, na tua criação é banal(ponto final)
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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