tiro o esmalte das unhas,
com o descaso
e a impaciência costumeira,
por deus,
o que ainda sobra por sentir, além disso?
o domingo e o tédio,
véspera de segunda e coisa nenhuma...
corto as bordas do pão de forma,
como quem espera cortar as bordas de si...
respiro fundo e solto o ar de mim,
prendo o que ainda me resta de sanidade e engulo o café com leite.
há puco ou nada que se dizer,
além disso.
monossilaba por monossilaba
de um poema que eu nunca me termina.
todo o resto é infinitamente menor.
tô sem saco para os trabalhos de faculdade,
livros,
anotações
e notas de rodapé,
vizinhos,
cachorro latindo,
horário
ponteiro e relógio.
todo o resto é infinitamente maior.
teve aquele sonho da noite passada,
a chuva pela manhã,
o terminal de ônibus,
a porta abrindo,
o silêncio do quarto
e o gosto de café requentado que me fica na boca...
e ainda tenho esmalte na mão...
por deus, e o que mais agora?
tomo outro gole de leite,
sanidade a engolir
e escarrar.
Eu também penso isso: " o que me resta pra sentir na poesia?" aí venho aqui te leio ... e sinto. Penso sempre em redescoberta, o novo que ficou esquecido nos fragmentos.
ResponderExcluirSaudações.